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sexta-feira, 23 de julho de 2021

O SANTO E O SECULAR

Um dos grandes obstáculo que o crente tem em sua jornada como cristão, para ter uma verdadeira paz interior, é o hábito de querer viver duas vidas: uma sagrada e outra secular. Disse A.W. Tozer: “Se aceitarmos que essas áreas existem à parte uma da outra, e que são moral e espiritualmente incompatíveis, e se, a despeito disso, somos obrigados, pelas necessidades da própria existência, a cruzarmos e entrecruzarmos constantemente uma área com a outra,  nossa unidade interior tende a se desfazer, e passarmos a ter uma vida dividida, em lugar de uma vida unificada”.

 

1.    Os dois mundos do cristão. O espiritual e o natural. Como filhos de Adão, vivemos nesta terra sujeitos às limitações da carne e às fraquezas da natureza humana. “Miserável homem que eu sou! Quem me livrará do corpo dessa morte?” (Rm 7. 24). Antagonicamente, temos a vida do espirito, onde desfrutamos uma vida superior; somos filhos de Deus; temos uma posição celestial “Portanto, agora, nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus, que não andam segunda a carne, mas segundo o espirito” (Rm 8.1). Usufruímos de uma comunhão íntima com Cristo. Por isso temos a tendencia de dividir nossa existência em duas dimensões. Mesmo que inconscientemente reconhecemos um dualismo de procedimento.

a.    A primeira, espiritual, vivenciamos com alegria, porque sentimos que estamos agradando a Deus. São as orações, a leitura da Bíblia, os louvores a Deus, os cultos, as visitações evangelísticas, o círculo de oração, etc. Reconhecemos com estes atos, que nossa casa não é aqui, é que esperamos uma cidade futura, chamada céu (Fil 3.20).

b.    A segunda, secular, que abarca todas as outras ações da vida cotidiana. Quer seja crente ou não, precisam participar dessas ações: Comer, dormir, trabalhar, estudar, cuidar das necessidades do corpo, enfim, realizar tudo aquilo que é rotineiro e trivial da vida terrena. Pode até ser que como crente dizemos: Um dia deixarei esse corpo terreno, e me dedicarei inteiramente ao Senhor, somente cantando gloria e aleluias.

Esses dois mundos, sacro-secular, muitas vezes incomoda e embaraça muitos cristãos. Vivem se equilibrando nessa corda bamba, e finalmente não acham satisfação nem paz nem em um e nem em outro. São crentes, ou cristãos, que passam a vida toda buscando encontrar a perfeita vontade de Deus para a sua vida, e nunca encontram (Rm 12.2).

2.    Existem de fato esses dois mundo para o cristão? A resposta é não. A antítese sacro-secular não tem fundamento nenhum no Novo Testamento. O que se faz necessário, é conhecermos com mais profundidade a doutrina cristã.

a.    Tomemos como exemplo a vida de Jesus. Ele disse: “A minha comida é fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra” (Jo 4. 34). Jesus porém, comia, bebia, dormia, trabalhava na carpintaria, ajudava os discípulos em suas tarefas, etc. Quer dizer, ele viveu nesta terra na presença de Deus Pai, sem nenhuma tensão, desde a sua infância até sua morte na cruz. O Pai aceitou a oferta de sua vida inteira, e não fez nenhuma distinção entre uma ação e outro. Quer dizer: quando jesus usava o serrote ele glorificava ao Pai, quando ele curava um enfermo, também glorificava o Pai. Olha o que o Filho disse do Pai: “E aquele que me enviou está comigo; o Pai não me tem deixado só, porque eu faço sempre o que lhe agrada” (Jo 8. 29). Se Jesus sofreu pressões e sofrimentos, foi por causa de nossos pecados e não de incerteza moral ou desajuste espiritual.

 

b.    O ensinamento de Paulo. “... fazei tudo para a gloria de Deus” . Isso não é retórica e nem idealismo religioso. Foi o que Deus revelou ao apóstolo Paulo para que seja cumprido pelos homens. Está nas Escrituras, e é preciso que seja crido e vivido por cada um de nós como a Palavra da verdade. “Toda Escritura divinamente inspirada é proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça” (2Tm 3. 15). Então, abre-se diante de nós a possibilidade de que todas as nossas ações sejam para a gloria de Deus. Veja que Paulo menciona duas coisas das mais triviais da vida dos seres racionais e irracionais: comer e beber. Até mesmo estas ações tão simples da vida, podem redundar para a gloria de Deus. Não é nosso corpo que nos envergonha de Deus , mas sim, a corrupção, o desregramento e o uso indiscriminado dos nossos instintos humanos que deveriam nos dar vergonha de nosso Criador. As ações praticadas pelo corpo, quando realizadas em pecado e contrárias à natureza, jamais poderão honrar a Deus. Sempre que nossa vontade introduzir em nossos instintos alguma perversão moral, eles deixarão de ser naturais e puros, como Deus os criou; em vez disso, serão apetites desordenados, desenfreados e imorais, que nunca vão glorificar ao Pai que é Santo.

c.     Devemos dizer ao nosso corpo, o que os discípulos falaram ao jumentinho: “O Senhor precisa dele” (Mc 11.3). Da mesma maneira que aquele humilde jumentinho levou Jesus, nosso corpo mortal e efêmero também leva Jesus por onde quer que formos “E graças  Deus, que nos faz triunfar em Cristo e, por meio de nós, manifesta em todo lugar o cheiro do seu conhecimento” (2Co 2.14). “Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vossa Pai que está nos céus” (Mt 5. 16). Todas as coisas se tornarão sagradas quando entendermos isso.

d.    Até as ações mais simples podem glorificar a Deus. Devemos colocar em prática o princípio de realizar todo trabalho, todas as tarefas diárias como um sacerdócio. Devemos entender que Deus toma parte até nas situações mais insignificantes da nossa vida, quando reconhecemos a Sua presença nelas.

e.    Qual lugar é mais sacro e qual lugar é mais secular. Muitos pensam que devem ter atitudes mais reverentes e santas dentro de um templo religioso, não é mesmo? Quantos que dizem assim, quando uma pessoa fala algo mais ríspido, ou uma palavra mal falada: Não vê que você está na casa de Deus? Para o povo de Israel, que viveu 400 anos em meio ao povo egípcio, e perderam a noção do sagrado, o Senhor precisou ensina-los com símbolos, com o tabernáculo, com a nuvem, com o fogo, dias santos, vasos santos, vestes santas, sacrifícios santos, e ofertas. Através desses símbolos, eles aprenderam que Deus é um Deus santo. Deus não queria ensinar-lhes que objetos e lugares eram santos, mas sim que Deus é santo (Ex 3.5).

·      Com a vinda de Jesus, tudo mudou. Aqueles símbolos ficaram ultrapassados. Quando Cristo morreu na cruz, o véu do templo foi rasgado de alto a baixo. Ficou aberto o santo dos santos a todos quantos ali quiserem entrar pela fé (Hb 11.6; 10.19; Jo 4. 21,23,24). Mais tarde Paulo deu o grito da liberdade, e declarou santos todos os dias, limpos todos os alimentos, sagrado todos os lugares e aceitáveis a Deus todas as ações corretas (Fil 4.8).

·      Depois que o homem santificar ao Senhor seu coração, daí por diante não fará mais nada como antes. Tudo quanto fizer será bom e aceitável a Deus, por intermédio de Jesus Cristo. Para um crente assim, a própria existência é um sacramento,  e o mundo inteiro, um santuário. Sua vida, em todos os aspectos, será um sacerdócio. Em tudo que ele fizer, ouvirá as vozes dos anjos cantando: “Santo, santo, santo é o Senhor dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua glória” (Is 6.3).

 

Mensagem elaborada, a partir da leitura do livro, A Procura de Deus de A.W. TOZER.

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