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quinta-feira, 21 de julho de 2022

HERMENÊUTICA BÍBLICA

 


2Pedro 1.20; 3.15,16

A Bíblia é um livro singular, pois se trata da mente de Deus falada nas palavras dos homens. O pastor Osiel Gomes, cita FEE; STUART, 2001, que disse: “A Bíblia é a Palavra de Deus dada nas palavras de pessoas na história. É esta natureza dupla da Bíblia que exige nossa parte na tarefa da interpretação”.

Raimundo de Oliveira, em seu livro “Como estudar e interpretar a Bíblia”, menciona também o autor supracitado, em seu livro “Entendes tu o que lês?”, onde diz: “o problema da interpretação das Escrituras é que um grande número de pregadores e professores da Bíblia cavam tanto nas suas pesquisas bíblicas, que tendem a enlamear as águas, tornando obscuro o que nos era claro na Bíblia”.

A Bíblia não é apenas um livro, mas uma coleção de livros, envolvendo cerca de quarenta autores ao longo de mil e seiscentos anos, escrito em três idiomas (hebraico, grego e partes em aramaico). É uma obra multicultural. Portanto, não é nada simples nem mesmo fácil interpretar tudo isso, sem ajuda de técnicas e métodos para uma clara e melhor compreensão do texto sagrado. Ainda mais, devemos sempre tomar em conta, que ninguém poderá interpretar a Bíblia sem a ajuda do Espírito Santo (1Co 2.10).

HERMENÊUTICA E EXEGESE

Parece que sempre temos dificuldade de entender a diferença entre exegese e hermenêutica, não é mesmo? Osiel diz: “Quando você procura o significado de uma palavra, querendo saber o que realmente ela queria dizer para as pessoas no tempo em que foi escrita, você está fazendo exegese. As regras, formas ou métodos como essa análise é feita podem se chamar Hermenêutica. A Hermenêutica é o que ajuda a entender melhor esses princípios de interpretação”. Continua: “A exegese busca a interpretação de um texto, já a hermenêutica estuda as regras, as bases para que o texto se torne compreensivo”. D. A. Carson nos diz o seguinte: “Diria que a exegese relaciona-se à interpretação de um texto, enquanto a hermenêutica diz respeito à natureza do processo interpretativo. A exegese termina dizendo: “Esta passagem significa isto ou aquilo”; a hermenêutica conclui assim: “Este processo interpretativo constitui-se das seguintes técnicas e pressuposições”. Carson diz que as duas estão relacionadas, porém, segundo ele, a hermenêutica nunca é um fim em si mesma: ela serve a exegese.

 

SIGNIFICADO DA PALAVRA HERMENÊUTICA

Se pode entender a palavra “hermenêutica” como a arte de interpretar, ou de interpretação. É por meio dessa ciência que entendemos os princípios, leis e métodos de interpretação. É de comum acordo de todos os estudiosos do tema, que esse termo foi usado pela primeira vez por Platão, porém, como um termo técnico. Ele o empregou no sentido de explicar e interpretar escritos antigos e atuais, que sejam de natureza espiritual, científica e do direito. Aqui falamos em Hermenêutica em sentido geral.

Osiel Gomes, em seu livro “Aplicando Bem a Palavra”, cita Ulrich J. Kortner que define hermenêutica da seguinte maneira:

“A hermenêutica é o estudo da compreensão. Compreender algo, no entanto, significa compreendê-lo como resposta a uma pergunta. Enquanto não conhecemos e compreendemos a pergunta, aquilo que estamos procurando entender permanece incompreendido. A hermenêutica faz-se necessária, pois a compreensão não é autoexplicativa... (KORTNER, 2009, p. 10).

A palavra é originaria do termo grego hermeneuein, que tem como significado “explicar”, ou “interpretar”. Na Bíblia é usado em João 1.42; 9.7; Hebreus 7.2; Lucas 24.27), onde todas as referências diz respeito a explicação de algum termo, ou sentido da palavra.

Hermes, é o nome dado ao deus grego considerado porta-voz ou intérprete dos outros deuses. No livro de Atos dos Apóstolos 14.12, na NVI lemos o seguinte: “A Barnabé chamaram Zeus e a Paulo, Hermes, porque era ele quem trazia a palavra”.

Além da hermenêutica no sentido geral como arte de interpretar os fatos da história, da profecia, da poesia e das leis, há ainda outro tipo de hermenêutica, que chamamos de “hermenêutica sagrada”, ligada essencialmente à interpretação, compreensão e explicação da Palavra de Deus

Alguns ainda dividem a hermenêutica da seguinte forma:

a.     A geral. Para interpretar qualquer obra.

b.    Especial. Aplica-se às obras como história, poesia, profecia.

c.     Sacra. O estudo das escrituras como divinamente inspirada por Deus (2Tm 3.16).

 

A NECESSIDADE DO ESTUDO DA HERMENÊUTICA SAGRADA

Como já sabemos, a hermenêutica tem como finalidade principal indicar o meio pelo qual é possível determinar as diferenças de pensamentos e atitudes entre o autor duma obra e o leitor que a lê. Para o estudante da Bíblia, isso é ainda mais sério, pois ele não se prende apenas em saber o que homens como Moisés, João, Paulo, escreveram, mas saber que neles estava a ação direta do Espírito Santo de Deus (2Pe 1.21).

Alguém pode perguntar: Por que preciso da hermenêutica para estudar a Bíblia? Não basta ler a Bíblia? Osiel Gomes disse que não é difícil de responder essa pergunta, pois a necessidade do uso da ciência para o texto sagrado resulta no próprio pecado do homem. Disse ele: “ele não tem uma mente saudável, e sofre influência desde mundo, por isso precisa ter a mente de Cristo para que faça uma boa interpretação” (1Co 2.16). Ele ainda nos diz que não há uma uniformidade de pensamento nos homens, por isso a necessidade da hermenêutica, que nos ajudará na harmonização da interpretação da Palavra de Deus.

O apóstolo Paulo disse que devemos manejar bem a Palavra da Verdade (2Tm 2.15). Quando o homem de Deus, seja ele pregador, professor da Escola Dominical, pastor, ou um presbítero, que no dizer de Paulo “...trabalha na Palavra e na doutrina” (1Tm 5.17), devem conhecer as regras de interpretação podendo assim combater as heresias, que nascem exatamente na má interpretação da Palavra (1Pe 3.15).

É impossível em um só estudo falar com maior profundidade sobre tão relevante tema. Não comentaremos sobre os princípios de hermenêutica entre os vários grupos de Judeus, como os Palestinos, Alexandrinos, Caraítas (filhos da leitura), Cabalistas e Espanhóis, e como eles interpretavam a Lei de Moisés. Vamos seguir adiante, diretamente ao hermenêutica na Igreja Cristã.

1.                  Período da Patrística. Nesse período a hermenêutica dependia de três centros de atividades da igreja: Alexandria, Antioquia e Ocidental.

a.    A escola de Alexandria. (Egito) Essa Escola data do século III depois de Cristo. Havia uma mescla entre a filosofia e a religião, afetando, portanto, a interpretação bíblica. Nessa escola aparece, nome importantes como Clemente de Alexandria e Orígenes. As fontes que eles recorriam eram os filósofos pagãos, como Homero e Filo.

Esses homens criam na Bíblia como inspirada por Deus, mas entendiam que alguns métodos deveriam ser aplicados no entendimento do texto para que a comunicação fosse compreensível. Achavam que a compreensão do texto deveria ser feito no método alegórico, desprezando o literal. Clemente chegou a dizer que o Antigo Testamento, somente poderia ser entendido alegoricamente.

Orígenes, que era superior a Clemente no saber, dizia que a Bíblia é o meio de salvação do homem, pois assim como o corpo era formado de três partes (corpo, alma e espírito), as escrituras também era tríplice em seu sentido (literal, moral e místico). Esse era um posicionamento platônico, que acreditava que o homem era um ser tríplice.

b.      A Escola de Antioquia. (Síria) Essa Escola foi fundada por Doroteu e Lúcio. Há alguns estudiosos que afirmam que foi Deodoro que tenha fundado essa Escola em 378 de nossa era. Na verdade, quem se destacou nesse tempo, foram dois discípulos de Deodoro: Teodoro de Mopsuéstia e João Crisóstomo.

Teodoro se destacou como como um intérprete liberal, intelectual e crítico da Palavra de Deus, mas Crisóstomo, pelo dogmatismo, espiritualidade e praticidade da Palavra. Recebeu o apelido de “Boca de Ouro”, pela eloquência de sua oratória. Tanto ele, como Teodoro, contribuíram muito para a interpretação séria das sagradas Escrituras, pois deram grande valor a exegese científica, buscando a compreensão do sentido original do texto, procurando tirar proveito do que diz a Palavra de Deus. Eles desprezaram o método alegórico na interpretação.

c.       A Escola do Ocidente. Era um método que se pode chamar de “eclético”, pois havia uma mescla da Escola de Alexandria no Egito, com Antioquia na Síria. Os nomes que se destacaram no Ocidente foram: Ambrósio, Jerônimo, Hilário e Agostinho. Jeronimo sobressaiu pela sua tradução da Bíblia, a Vulgata. Outro nome a ser destacado é o de Agostinho. Segundo a história ele não foi um grande exegeta, mas, foi reconhecido como aquele que sistematizou o conteúdo Bíblico e foi um grande intérprete das Escrituras.

Agostinho dizia que o intérprete da Bíblia, deve estar preparado em todos os aspectos, como: filológico, crítico ou histórico, e sobretudo deve amar o autor da Palavra. Para ele o literal deve fundamentar o alegórico.

 

2.        Método da interpretação bíblica na idade média. (Séculos V a XV) Conhecido como “período das trevas”, pois o espírito de ignorância imperava. Quanto a interpretação bíblica, prevalecia o método agostiniano: Literal, tropológico, alegórico, analógico. Nesse tempo a Escritura era interpretada de modo místico, pois era considerada um livro de grandes mistérios e muito complicado. Os intérpretes da Bíblia eram desprezados. A única Bíblia usada era a Vulgata de Jerônimo.

Na Idade Média a interpretação ficou totalmente presa à Igreja. Mesmo que exaltassem os escritos dos pais da Igreja, quando tais artigos não fossem de acordo com a Bíblia, a voz maior era da Igreja, e não da Bíblia. Não surgiu nenhum princípio novo, nem uma exegese saudável na Idade Média, mas prevaleceu sempre a tradição da Igreja. Um dos nomes mais famosos nesse tempo foi o de Tomás de Aquino, porém, foi o de Nicolau de Lira o de maior repercussão, como escreve Osiel Gomes:

“Pois ele rompeu com os pressupostos do método agostiniano, valorizando o sentido literal e místico na interpretação do texto Bíblico. Ele dava importância aos originais bíblicos, e o místico só poderia ser usado na demonstração da doutrina, pois ele “assassina” o texto e sua interpretação original”.

Segundo o pastor Osiel, esse posicionamento de Nicolau foi de suma importância, pois incendiaria o coração Lutero, que posteriormente estouraria a Reforma Protestante.

3.        O método de interpretação da Bíblia na Reforma. Foi o período renascentista, (meados do século XIV ao final do século XVI) que preparou a Europa e o mundo para a Reforma Protestante, chamou a atenção da cristandade de então para a necessidade de se estudar as Escrituras recorrendo aos originais, como forma de se achar o verdadeiro significado. Foram tidos como apóstolos dessa época áurea da hermenêutica, Johann Reuchlin e Desiderio Erasmo. Ambos muitos contribuíram para o estudo e pesquisa das Sagradas Escrituras. Reuchlin publicou uma gramática e um dicionário da língua hebraica; enquanto Erasmo escreveu a primeira edição crítica do Novo Testamento Grego. O quádruplo sentido da Bíblia ensinado por Agostinho foi paulatinamente abandonado, para dar lugar ao princípio de que a Bíblia deve ser interpretada apenas num sentido.

A fé inabalável dos reformadores, dizia que a Bíblia era a inspirada Palavra de Deus. Contra a infalibilidade dos concílios, eles estabeleceram a infalibilidade das Sagradas Escrituras. A posição dos reformadores tinham a seguinte posição: Não é a Igreja que determina o que as Escrituras ensinam; pelo contrário, são as Escrituras que determinam o que a Igreja deve ensinar.

O reformador Martinho Lutero salientou a necessidade de se considerar o contexto e as circunstâncias históricas de cada livro; exigiu que o intérprete da Bíblia tivesse intuição espiritual e fé. Teve a pretensão de encontrar Cristo em Toda a Escritura. Seu fiel aliado, Filipe Melanchton seguiu o princípio de que as Escrituras, devem ser entendidas primeiramente gramaticalmente, para depois ser entendida teologicamente, e que elas têm apenas um simples e determinado sentido.

João Calvino, tido como o maior exegeta da Reforma, considera que “o primeiro dever do intérprete é permitir que o autor diga o que realmente diz, ao invés de lhe atribuir o que pensa que devia ser”.

4.      O período confessional. (PÓS-REFORMA) Não poderia deixar de abordar esse tempo pós-reforma, onde o perigo rondou de perto a verdadeira hermenêutica. Foi um tempo de grandes controvérsias doutrinárias. Os protestantes, que até então estavam coesos na doutrina e na interpretação da Bíblia, começaram a se dividir em várias facções, enquanto a exegese se tornou serva da dogmática, degenerando-se em mera busca de textos-provas. Quer dizer: estudava-se as Escrituras apenas buscando apoio às declarações de fé das confissões da época.

Direi como o escritor aos Hebreus, faltar-me-ia tempo, para falar sore todos os intérpretes que se levantaram nesse tempo e posteriores, como os Socinianos, Coccejus, os pietistas. Na hermenêutica moderna, do século XIX até nós, como os liberais, os neo-ortodoxos, a nova hermenêutica etc. Para o estudante interessado em se aprofundar mais, será aconselhável uma bibliografia mais ampla no assunto, como: Os perigos da Interpretação Bíblica, de D.A. CARSON, Vida Nova; Aplicando bem a Palavra, de Osiel Gomes da Silva, Doksa; Como estudar e Interpretar a Bíblia, Raimundo Ferreira de Oliveira, CPAD; Hermenêutica, Curso Médio em Teologia, IBADEP Etc.

A UNIDADE ORGÂNICA DA BÍBLIA

Não houve contato de um escritor com outro para a formação da Bíblia. Tudo aconteceu em um processo divino e não mecânico. Berkhof diz: “A Bíblia não foi feita, mas seu desenvolvimento foi divino”.

Certamente que a unidade da Bíblia foi um milagre, pois não existe discrepância em seus assuntos. Isso por um único motivo: todas as suas partes foram produzidas pelo Espírito de Deus. Há um conteúdo único na Bíblia: A pessoa de Jesus Cristo.

O pastor Osiel nos diz que sobre o Aspecto progressivo das Escrituras, podemos dizer que se trata de um milagre também, pois lemos sobre a redenção da humanidade por meio da semente da mulher (Gn 3.15), que expressa a graça de Deus, passamos a entender daquilo que se inicia e que se concretiza em Cristo Jesus.

Se pode ver também claramente a autoridade e a unidade da Bíblia nas citações que diversos autores fizeram de outros livros, ratificando assim sua inspiração e unidade (Rm 3.10; Ec 7.20; Sal 14.2,3).

Os dois Testamentos

Dizia Agostinho: “O Novo Testamento está oculto no Antigo, o Antigo está aberto no Novo”. Enquanto no Antigo temos a promessa, no Novo se dá o cumprimento. O Antigo aponta a pessoa de Cristo, no Novo Testamento tudo parte do próprio Cristo.

Se pode ainda ver outras diferenças entre os dois Testamentos, pois o Antigo é profético, o Novo apostólico. No Antigo Testamento os profetas eram influenciados pelo Espírito Santo, no Novo o Espírito Santo está dentro de suas vidas.

PRINCÍPIOS DE INTERPRETAÇÃO BÍBLICA

A Bíblia não pode nem deve ser interpretada ao bel-prazer do leitor. Não importa a sua cultura, para captar a mente de Deus e o que o Espírito Santo ensina na Bíblia, se faz necessário seguir alguns princípios ou regras.

Vamos usar algumas regras elencadas pelo pastor Raimundo Ferreira de Oliveira em seu livro Como Estudar e Interpretar a Bíblia, onde, antes de tratar sobre elas, o autor faz uma séria recomendação dizendo:

“O estudante da Bíblia que, porventura, desprezar estas regras, pode estar certo de que não só terá dificuldades na compreensão das Escrituras, porém, mais do que isto: confundirá, sem dúvida, aqueles que porventura sejam levados a ouvi-lo. E, uma coisa e não saber por não ter tido oportunidade de aprender; outra coisa é continuar na ignorância por rejeitar o conhecimento gratuitamente oferecido”.

REGRA UM

Estude a Bíblia partindo do pressuposto de que ela é a autoridade suprema em questão de religião, fé e doutrina. Consciente ou inconsciente nós nos submetemos em matéria de religião, ou a tradição, ou a razão, ou as Escrituras.

REGRA DOIS

Não se esqueça que a Bíblia é a melhor intérprete de si mesma, isto é: A Bíblia interpreta a Bíblia. Mesmo sabendo disso, muitos leitores querem desprezá-la no momento de interpretá-la. Não queira falar aquilo que a própria Bíblia não diz. Muitas vezes, com lágrimas como disse Paulo, descobrimos que os maiores inimigos da Bíblia, não são seus opositores que, em épocas de perseguições, rasgaram-na e queimaram-na, mas, sim, um grande número dos seus expositores, sempre prontos a achar na Bíblia apoio para as suas ideais absurdas. Daí surgiu esse amontoado de heresias existentes hoje em dia.

REGRA TRÊS

Dependa da fé salvadora e do Espírito Santo para a compreensão e interpretação da Escritura. Sabemos que o diabo cega os olhos dos incrédulos, como disse Paulo em 2 Coríntios 4.4. Essa é a razão por que que aquilo que na Bíblia para o cristão fiel brilha com grande fulgor do sol ao meio-dia, para o não crente é escuro como a noite (1Co 1.18).

REGRA QUATRO

Interprete a experiencia pessoa a luz das Escrituras, e não as Escrituras a luz da experiencias pessoal. Ao estudar as porções didáticas da Escrituras, você haverá de notar que o Escritor não diz: “Porque tal coisa aconteceu, isto é verdade.” Em vez disso, afirma justamente o oposto: “Porque isso é verdade, uma coisa particular aconteceu.” Por exemplo: O Novo Testamento não ensina que, porque Jesus ressurgiu dos mortos, Ele é o Filho de Deus. Antes, porque Jesus é o Filho de Deus, ressurgiu dos mortos.

REGRA CINCO

Os exemplos bíblicos só têm autoridade prática quando amparados por uma ordem que os faça mandamento universal. Exemplo: Noé plantou uma vinha e se embriagou, não é um mandamento universal. Outro: Jesus Chamou Herodes de raposa. Não significa que devemos afrontar as autoridades etc. Vamos tomar outro exemplo da vida do próprio Cristo: Ele nunca se casou, mas isso não significa que ele era contra o casamento, que esse sim é um mandamento universal, e fica a critério do solteiro casal ou não.

 

REGRA SEIS

O principal propósito da Escritura é mudar nossas vidas e não multiplicar nossos conhecimentos. (2Tm 3.16). Satanás conhece a Bíblia e é capaz de citá-la melhor que os mais eruditos pregadores. Sem dúvida ele passaria nos exames de conhecimento das Escrituras. Ele soube citar direitinho o Salmo 91.11,12 quando tentou a Jesus. Deus não me quer um cristão teórico, apenas com o conhecimento, mas sobretudo piedoso (1Co 8.1b). (A ilustração do professor Ludwig Kopfwissen)

REGRA SETE

Todo cristão tem direito e a responsabilidade de interpretar pessoalmente as Escrituras, seguindo princípios universalmente aceitos pela ortodoxia bíblica. Podemos lembrar dos tempos anteriores a Reforma, onde quem tinha autoridade para interpretar a Bíblia era somente os clérigos da Igreja Católica. Porém Lutero se insurgiu contra esse tipo de poder dizendo: “Se é certo o artigo na nossa fé “creio na Igreja Cristã”, então o papa não pode estar certo sozinho; do contrário deveríamos dizer: “creio no papa de Roma” e reduziu a Igreja Cristã a um único homem, o que é uma heresia diabólica e condenável. Além disto somos todos sacerdotes, como já disse, todos temos uma fé, um Evangelho, um sacramento; como então não teríamos o poder de discernir e julgar o que é certo ou errado em matéria de fé?”

Infelizmente, hoje em dia, muitos cristãos brincam de ler a Bíblia. A um grande número de iletrados em matéria de doutrinas bíblicas. Há uma pesquisa, que consta que muitos dos chamados “doutores em divindade” da atualidade, que nunca leram a Bíblia toda. Por isso somos uma geração de crentes virtual e espiritualmente doentes.

Na verdade, nem todas nossas perguntas serão respondidas aqui desse lado da vida. Chegará um dia, que todas os enigmas serão desvendados, como disse Paulo: “Porque, agora, vemos por espelho em enigma; mas, então, veremos face a face; agora, conheço em parte, mas, então, conhecerei como também sou conhecido” (1Co 13. 12).


REGRA OITO

Apesar da importância da história da Igreja, ela não chega a ser decisiva na fiel interpretação da Escritura. Sabemos do grande valor da história para nós evangélicos atualmente. Muitas questões foram resolvidas pelos pais da igreja, deixando um grande legado para a posteridade. Vejamos:

a.     No século II a Igreja lidava com a apologética e as ideais fundamentais do cristianismo;

b.    No século III e IV, com a doutrina de Deus;

c.     No século V, com o homem e o pecado;

d.    Desde o século V até o VII, com a pessoa de Cristo;

e.    Nos séculos XI ao XVI, com a expiação;

f.      No século XVI, com a aplicação da redenção (justificação).

 

Logicamente que não estamos falando de questões pequenas ou utopias. Conta-se que quando os muçulmanos tomaram a cidade de Constantinopla, a grande fortaleza da Igreja no Oriente, seus líderes, estavam reunidos discutindo se “a água benta”, após cair uma mosca dentro dela, continuava benta ou não.

Apesar do reconhecimento da história da Igreja, quando os crentes do passado se deram o penoso trabalho de sondagem e interpretação das Escrituras, defendendo a integridade da doutrina cristã. Mesmo reconhecemos a bravura e denodo com que os princípios sagrados foram defendidos e mantidos, devemos afirmar que a Igreja não determina que a Bíblia ensina; antes a Bíblia é que determina o que a Igreja ensina. Portanto, a interpretação da Igreja só tem autoridade à medida em que esteja na mais absoluta harmonia com os ensinamentos da Bíblia como um todo.

Nem a tradição devido aos anos, nem os mais renomados teólogos, pelo acúmulo de conhecimento adquiridos, podem justificar ter a última palavra no que concerne à interpretação das Escrituras. (assistimos na semana passada o pregador neopentecostal, Benny Hinn, se desculpando pela falsa interpretação dada a Palavra de Deus).


REGRA NOVE

O Espírito Santo quer aplicar as promessas divinas, exaradas nas Escrituras, à vida do crente em todos os tempos. As promessas que estão na Bíblia, são meios pelas quais Deus revela sua vontade aos homens. Porém, reclamar promessas pode ser algo subjetivo.

Devemos ter cautela ao reivindicarmos as promessas de Deus. A falta de orientação, muitas vezes faz o crente querer tomar posse de promessas através de meios que não são bíblicos. Quem já não viu aquele irmão procurando promessas, de joelhos, de repente, coloca o dedo em algum lugar na Bíblia de olhos fechados, e entende que ali está a promessa ou a direção de Deus. Não que isso não possa ocorrer, mas não é regra, e sim exceção. Quem não lembra daquela famosa estória, do irmão que abriu a Bíblia dessa forma, e o dedo parou em Mateus 27.5, que diz: “E ele, atirando para o templo as moedas de prata, retirou-se e foi-se enforcar”. Ele fechou a Bíblia rapidamente, orou e abriu outra vez, e parou em Lucas 10. 37, que diz: “... Vai e faze da mesma maneira”.

Não que que as promessas feitas ao povo de Israel não tenha valor para o crente, logicamente que tem. Está escrito que todas as promessas de Deus tem em Cristo o sim e o amém (2Co 1.20). Como por exemplo: Se você está passando por perseguições, e em meio a isto seja evado a orar pedindo orientação de Deus. Enquanto ora, o Espírito Santo pode levá-lo a lembrar da promessa de Êxodo 14.14: “O Senhor pelejará por vós, e vós calareis”. Mesmo que originalmente essa promessa foi dada a Moisés e aos filhos de Israel, quando diante das afrontas de Faraó, o Espírito Santo a aplica com uma promessa feita diretamente ao você, e desse modo você aquieta o coração, confiando nas promessas de Deus (2Pe 1.3,4).

 

O PORQUÊ DAS ESCRITURAS

Deus tem se revelado através dos tempos por meio de suas obras, isto é, por meio da Criação. Porém, na Palavra de Deus temos uma revelação especial e maior. É dupla esta revelação; temo-la de duas maneiras: a) na Bíblia - A PALAVRA ESCRITA; e b) em Cristo - A PALAVRA VIVA.

 A Necessidade do Estudo das Escrituras

A necessidade do estudo das Escrituras está implícita nos seguintes textos: 1 Pedro 3.15; 2 Timóteo 2.15; Isaías 34.16 e Salmos 119.130. O estudo destes versículos nos conduz a dois pontos de suma importância, que são: 1) Porquê devemos estudar a Bíblia, e 2) Como devemos estudar a Bíblia; ambos estudados a seguir.

1. Por quê devemos estudar a Bíblia:

a. A Bíblia e o manual do crente na vida cristã a no trabalho do Senhor. Sendo a Bíblia o livro-texto do cristão, é imperioso que este maneje-a bem para o eficiente desempenho de sua missão.

 b. A Bíblia alimenta nossa alma.  Não há dúvida de que o estudo da Bíblia Sagrada nutre e dá crescimento espiritual ao crente. Ela é tão indispensável à alma, como o pão é ao corpo. Ela é comparada ao alimento diário, porém, este só nutre o corpo quando é absorvido pelo organismo. Bom apetite pela Bíblia é sinal de saúde.

c. A Bíblia é o instrumento que o Espírito Santo usa nas suas batalhas. Se em nós houver abundância da Palavra de Deus, o Espírito Santo terá o instrumento com que operar. É preciso meditar nela. É preciso deixar que ela domine todas as esferas da nossa vida, nossos pensamentos, nosso coração e assim molde todo o nosso viver diário. Em suma: mister se faz ficarmos literalmente saturados da Palavra de Deus.

d. A Bíblia enriquece espiritualmente a vida do salvo. Essas riquezas vêm pela revelação do Espírito Santo, primeiramente. A pessoa que procurar entender a Bíblia somente através da percepção intelectual, muito cedo desistirá disso. Só o Espírito de Deus conhece as coisas de Deus.

2. Como devemos estudar a Bíblia

Se você deseja conhecer melhor a vontade de Deus para com a sua própria vida e para com o destino da humanidade, é importante ler a Bíblia seguindo o seguinte modelo:

a. Leia a Bíblia conhecendo seu Autor. Isto é de suprema importância. É a melhor maneira de estudar a Bíblia. Ela é o único livro cujo Autor está presente quando você o lê. E você sabe: o autor de um livro pode explicá-lo melhor que qualquer outra pessoa. Para compreender este livro singular, não basta lê-lo apenas, necessário se faz analisar detidamente as suas declarações. Façamos como Maria, que aprendia aos pés do Mestre. Aos pés do Mestre ainda é o melhor lugar para se aprender.

b. Leia a Bíblia diariamente. Esta regra é excelente. Não basta assistir aos cultos, ouvir bons testemunhos, assistir estudos bíblicos, e ler boas obras de literatura cristã. É preciso a leitura bíblica individual, pessoal e diariamente. Assim como fazia Israel quanto a colheita diária do maná, do crente diligente Deus requer o estudo diário da Sua Palavra.

c. Leia a Bíblia com a melhor atitude mental e espiritual. Isto é de capital importância para o êxito do estudo bí­blico. A atitude correta é a seguinte: a) Estudar a Bíblia como a Palavra de Deus, e não como uma obra literária qualquer; b) Estudar a Bíblia com o coração e em atitude de reverente devoção, e não apenas com o intelecto. As riquezas da Bíblia são para os humildes que temem ao Senhor. Quanto maior for a nossa comunhão com Deus, mais humildes seremos.

d. Leia a Bíblia com oração, devagar, meditando na sua mensagem. Assim têm feito os servos de Deus no passado, a exemplo de Davi e Daniel. O caminho a trilhar ainda é o mesmo. Na presença do Senhor, em oração, as coisas incompreensíveis são esclarecidas. A meditação aprofunda o sentido do que foi o estudo.

e. Leia a Bíblia toda. Há uma riqueza insondável nisso! É a única maneira de conhecermos a verdade completa dos assuntos tratados na Bíblia, visto que a revelação de Deus mediante ela é progressiva.

 

Que o Senhor nos ajude a entender cada dia melhor a sua Palavra!

 

 

 

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